segunda-feira, 13 de abril de 2009

O primeiro de muitos


Eu podia começar me apresentando, mas prefiro que essas formalidades sejam cumpridas com o passar dos posts. Por hora, me parece lógico que o primeiro texto fale exatamente do primeiro beijo.

Tinha tudo para dar errado: enquanto todos os meus amigos e a menina dos olhos azuis curtiam a festa de aniversário de uma colega do colégio, eu estaria no carro – na estrada – com a minha família.

Lembro-me bem daquela sexta-feira, chovia demais.

O relógio marcava 20 horas quando o telefone da minha casa tocou:

- Alô?
- Oi, filha! Tudo bem?
- Uhum – tentando parecer feliz com a viagem inconveniente.
- Escuta, a gente não vai mais viajar, não. Falei com o seu pai agora. Tá chovendo muito e as estradas estão paradas.
- Hum. Então eu posso ir no aniversário da Juliana, mãe? Vai ser num barzinho lá na Vila.
- Pode, só não vá chegar muito tarde, hein?

A euforia tomou conta de mim naquela hora. Sabe aquela cena bem patética onde alguém fica contente em receber alguma notícia e começa a saltitar pela casa feito boba? Pois é, eu tava assim: em êxtase. E toda essa explosão de sentimentos não era porque eu tinha certeza de que rolaria. Quer dizer, eu não descartava a possibilidade de rolar, mas eu tava feliz só por poder estar ao lado dela mais uma noite.

Mas como alegria de pobre dura pouco, a minha não era uma exceção. 2004 eu o último ano da minha “menoridade” e, portanto, era proibida de dirigir e meus pais se recusavam a me levar/buscar nas baladinhas da vida. Eu tinha SEMPRE que contar com a alma bondosa dos pais de amigos e amigos de amigos.

Apressei-me em ligar para todos os colegas que eu sabia que iriam pro tal do barzinho. Foi na terceira ligação que eu consegui a minha preciosa carona.

A menina de olhos azuis não sabia de nada. Na cabeça dela, eu tava viajando e nem passaria pela festa. Preferi manter a surpresa, só pra ver arregalados aqueles olhos hipnotizantes.

Como diria Adriana Calcanhoto: o relógio tava de mal comigo; as horas se arrastavam... A chuva deu trégua e o momento finalmente chegou. A buzina era o sinal de que minha carona estava ali. Mais alguns minutinhos no trânsito e... tchanã!

A portinhola enganava todos que pensavam que o bar era pequeno. Por dentro, as mesas se espalhavam por todos os lados e ainda havia espaço para uma pistinha de dança, isolada por paredes.

O pessoal conhecido estava acomodado nas mesas reservadas, as 3 últimas, que ficavam bem ao fundo do bar. Enquanto caminhávamos até eles, meu coração disparou: tum, tum, tum, tum.

Há poucos metros de distâncias nossos olhares se cruzaram. E só Deus sabe o que eu senti naquela hora. Como era de se esperar, ela arregalou os olhos azuis e, de brinde, um sorrisão enorme. Eu correspondi com a cara de uma mulher rendida, completamente apaixonada.

Ao lado dela estava uma amiga que, como ela, não era brasileira. Conversávamos apenas em inglês. Ela dizia à amiga o quanto eu era especial e o quanto estava feliz por eu estar ali.

- Essa festa ta um porre! Ainda bem que você chegou pra salvar a noite – disse ela.
- Nossa, a galera tá parada mesmo, hein? Vamos beber tequila!
- Ah, não. Eu já tomei muita vodca, já to meio alta. Vai lá no bar e chega no meu estágio.

Eu obedeci. Depois de uma dose de tequila e alguns copos de vodca, estava completamente solta. Ela me pegou pela mão e me levou pra pista de dança.

A música tava ótima, mas a pista era pequena. Ela, como sempre, tinha que fazer algo para chamar atenção. Subiu na mesa (sim, no meio da pista tinha uma mesinha para apoiar os copos e etc) e começou a dançar de uma forma incrivelmente sexy. E, obviamente, ela me puxou pra cima da mesinha também. E lá estávamos: causando na baladinha ht onde TODO O MEU COLÉGIO estava.

Okay, passado o momento “mamãe eu sou puta e danço na mesa”, descemos e começamos a esnobar os meninos que se enfileiravam pra tentar ficar com a gente. E eu não digo isso para que vocês pensem que nós éramos gatíssimas. I mean, não somos feias, mas os meninos chegaram na gente mais porque parecíamos biscates do que outra coisa (eu admito que meu passado me condena, ta legal!?).

Continuando, descemos e ficamos distribuindo botas. Até que, de repente (não mais que de repente), as pessoas sumiram, a música parou de tocar e só existia ela. Os olhos azuis penetravam fundo nos meus e era tão forte que nenhum músculo do meu corpo se mexia. Era o feito colateral da droga mais viciante de todos os tempos: a sedução feminina.

Não sei por quanto tempo permaneci estática, só sei que passado alguns minutos, os olhos azuis começaram a se aproximar mais e mais.

“É agora!” – eu pensei comigo mesma.

Os lábios rosados daquela menina de pele branca, cabelos escuros e olhos claros tocaram os meus por alguns segundos. Ela se afastou, olhou nos meus olhos como quem pergunta “quer continuar?” Eu respondi levando até ela os meus lábios.

O beijo foi doce. Macio. Envolvente. Macio. Esperado. Macio. Sincronizado. Macio. Verdadeiro. Macio. Apaixonado.

E eu gostei tanto, que saí correndo e deitei a cabeça no colo do meu melhor amigo (que anos depois se descobriu gay também!). Aos prantos eu dizia: “V. eu gostei”.

Eu sabia que aquele era apenas o primeiro. De muitos!

6 comentários:

  1. Bem vinda à blogosfera, Premru!
    Post macio e envolvente!
    Beijão!

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  2. Fiquei curiosa em saber dos outros beijos. Conte logo, vc escreve bem. Beijos!

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  3. Adoro essas narrativas que começam com "era sexta e chovia". Me identifiquei com o beijo, com a noite. A parte da biscate não me cabe neste latifúndio. kkk

    Bienvenida!

    Soy Bárbara Sandiego, del Querida Bolacha!

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  4. É lindo, macio, descontraído, macio, leve, macio, amei, macio...

    bom...

    bem vinda...

    Olhos...
    passa lá tb...

    mil beej...

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  5. bem, eu não sou blogueira com postagens destinadas a relações passionais de amor entre iguais... sou blogueira e costumo escrever sobre dança...
    mas bem, gosto de meninas.
    e particularmente stou cascaviando blogs iguais aos seus, me identifico com a escrita, é bom, é macio...
    me faz estar virtualmente entre os meus.
    quem sabe um dia eu escreva um blog assim...

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  6. ops, observação: entre as minhas.
    risos...

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